O hemograma é uma das análises de sangue mais úteis e mais
solicitadas na prática médica. Apesar de extremamente comum, esse é um exame
que ainda causa muita confusão na população e até nos meios de comunicação.
Algumas pessoas acham que todo exame de sangue é um hemograma, como se ambos os
termos fossem sinônimos. Isto é um equívoco.
Neste texto vamos explicar que tipos de informações o exame
de hemograma pode nos trazer.
HEMOGRAMA
No nosso sangue
circulam três tipos básicos de células, todas produzidas na medula óssea. São
estas células que estudamos através do hemograma:
– Hemácias (glóbulos
vermelhos).
– Leucócitos (glóbulos brancos).
– Leucócitos (glóbulos brancos).
– Plaquetas.

- ERITROGRAMA
O eritrograma é a
primeira parte do hemograma. É o estudo dos glóbulos vermelhos, ou seja, das
hemácias, também chamadas de eritrócitos. Os três primeiros
dados, contagem de hemácias, hemoglobina e hematócrito, são analisados em
conjunto. Quando estão reduzidos, indicam anemia, isto é, baixo número de
glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam policitemia, que é
o excesso de hemácias circulantes.
O hematócrito é o percentual
do sangue que é ocupado pelas hemácias. Um hematócrito de 45% significa que 45%
do sangue é compostos por hemácias. Os outros 55% são basicamente água e todas
as outras substâncias diluídas. Pode-se notar, portanto, que praticamente
metade do sangue é, na verdade, composto por células vermelhas.
Se por um lado a falta de hemácias prejudica o transporte de
oxigênio, por outro, células vermelhas em excesso deixam o sangue muito
espesso, atrapalhando seu fluxo e favorecendo a formação de coágulos.
A hemoglobina é uma molécula que fica dentro da hemácia. É a responsável pelo
transporte de oxigênio. Na prática, a dosagem de hemoglobina acaba sendo a mais
precisa na avaliação de uma anemia.
O volume globular médio (VGM) ou volume corpuscular médio (VCM), mede o tamanho das hemácias.
Um VCM elevado indica hemácias macrocíticas, ou seja, hemácias grandes. VCM
reduzidos indicam hemácias microcíticas, isto é, de tamanho diminuído.
Esse dado ajuda a diferenciar os vários tipos de anemia. Por
exemplo, anemias por carência de ácido fólico cursam com hemácias grandes,
enquanto que anemias por falta de ferro se apresentam com hemácias pequenas.
Existem também as anemias com hemácias de tamanho normal.
O CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) ou CHGM (concentração de hemoglobina globular média) avalia a
concentração de hemoglobina dentro da hemácia.
O HCM (hemoglobina corpuscular
média) ou HGM (hemoglobina globular média) é o peso
da hemoglobina dentro das hemácias.
Os dois valores indicam
basicamente a mesma coisa, a quantidade de hemoglobina nas hemácias. Quando as
hemácias têm poucas hemoglobinas, elas são ditas hipocrômicas. Quando têm
muitas, são hipercrômicas.
Assim como o VCM , o HCM e
o CHCM também são usados para diferenciar os vários tipos de anemia.
O RDW é um índice que avalia a diferença de tamanho entre as hemácias.
Quando este está elevado significa que existem muitas hemácias de tamanhos
diferentes circulando. Isso pode indicar hemácias com problemas na sua
morfologia. É muito comum RDW elevado, por exemplo, na carência de ferro, onde
a falta deste elemento impede a formação da hemoglobina normal, levando à
formação de uma hemácia de tamanho reduzido.
- LEUCOGRAMA
O leucograma é a parte do hemograma que avalia os leucócitos.
Estes são também conhecidos como série branca ou glóbulos brancos. São as
células de defesa responsáveis por combater agentes invasores.
Os leucócitos são, na
verdade, um grupo de diferentes células, com diferentes funções no sistema
imune. Alguns leucócitos atacam diretamente o invasor, outros produzem
anticorpos, outros apenas fazem a identificação, e assim por diante.
O valor normal dos
leucócitos varia entre 4000 a 11000 células por microlitro (ou milímetros
cúbicos)
Existem cinco tipos de
leucócitos, cada um com suas particularidades, a saber:
1) Neutrófilos
O neutrófilo é o tipo de
leucócito mais comum. Representa, em média, de 45% a 75% dos leucócitos
circulantes. Os neutrófilos são especializados no combate a bactérias. Quando
há uma infecção bacteriana, a medula óssea aumenta a sua produção, fazendo com
que sua concentração sanguínea se eleve. Portanto, quando temos um aumento do
número de leucócitos totais, causado basicamente pela elevação dos neutrófilos,
estamos provavelmente diante de um quadro infeccioso bacteriano.
Os neutrófilos têm um
tempo de vida de aproximadamente 24-48 horas. Por isso, assim que o processo
infeccioso é controlado, a medula reduz a produção de novas células e seu
níveis sanguíneos retornam rapidamente aos valores basais.
Neutrofilia = é o termo
usado quando há um aumento do número de neutrófilos.
Neutropenia = é o termo usado quando há uma redução do número de neutrófilos.
2) Segmentados e bastões
Os bastões são os
neutrófilos jovens. Quando estamos infectados, a medula óssea aumenta
rapidamente a produção de leucócitos e acaba por lançar na corrente sanguínea
neutrófilos jovens recém-produzidos. A infecção deve ser controlada
rapidamente, por isso, não há tempo para esperar que essas células fiquem
maduras antes de lançá-las ao combate. Em uma guerra o exército não manda só os
seus soldados mais experientes, ele manda aqueles que estão disponíveis.
Normalmente, apenas 4% a
5% dos neutrófilos circulantes são bastões. A presença de um percentual maior
de células jovens é uma dica de que possa haver um processo infeccioso em
curso.
No meio médico, quando o
hemograma apresenta muitos bastões chamamos este achado de “desvio à
esquerda”. Esta denominação deriva do fato dos laboratórios fazerem a
listagem dos diferentes tipos de leucócitos colocando seus valores um ao lado
do outro. Como os bastões costumam estar à esquerda na lista, quando há um
aumento do seu número diz-se que há um desvio para a esquerda no hemograma.
Portanto, se você ouvir o termo desvio à esquerda, significa apenas que há um
aumento da produção de neutrófilos jovens.
Os neutrófilos segmentados
são os neutrófilos maduros. Quando o paciente não está doente ou já está em
fase final de doença, praticamente todos os neutrófilos são segmentados,
ou seja, células maduras.
3) Linfócitos
Os linfócitos são o
segundo tipo mais comum de glóbulos brancos. Representam de 15 a 45% dos
leucócitos no sangue.
Os linfócitos são as
principais linhas de defesa contra infecções por vírus e contra o surgimento de
tumores. São eles também os responsáveis pela produção dos anticorpos.
Quando temos um processo
viral em curso, é comum que o número de linfócitos aumente, às vezes,
ultrapassando o número de neutrófilos e tornando-se o tipo de leucócito mais
presente na circulação.
Os linfócitos são as
células que fazem o reconhecimento de organismos estranhos, iniciando o
processo de ativação do sistema imune. Os linfócitos são, por exemplo, as
células que iniciam o processo de rejeição nos transplantes de órgãos.
Os linfócitos também são
as células atacadas pelo vírus HIV. Este é um dos motivos da AIDS (SIDA) causar
imunossupressão e levar a quadros de infecções oportunistas.
Linfocitose = é o termo
usado quando há um aumento do número de linfócitos.
Linfopenia = é o termo usado quando há redução do número de linfócitos.
Obs: linfócitos atípicos
são um grupo de linfócitos com morfologia diferente, que podem ser encontrados
no sangue. Geralmente surgem nos quadros de infecções por vírus, como
mononucleose, gripe, dengue, catapora, etc. Além das infecções, algumas drogas
e doenças auto-imunes, como lúpus, artrite reumatoide e síndrome de
Guillain-Barré, também podem estimular o aparecimento de linfócitos atípicos.
Atenção, linfócitos atípicos não têm nada a ver com câncer.
4) Monócitos
Os monócitos normalmente
representam de 3 a 10% dos leucócitos circulantes. São ativados tanto em
processos virais quanto bacterianos. Quando um tecido está sendo invadido por
algum germe, o sistema imune encaminha os monócitos para o local infectado.
Este se ativa, transformando-se em macrófago, uma célula capaz de “comer”
micro-organismos invasores.
Os monócitos tipicamente se elevam nos casos de infecções,
principalmente naquelas mais crônicas, como a tuberculose.
5) Eosinófilos
Os eosinófilos são os
leucócitos responsáveis pelo combate de parasitas e pelo mecanismo da alergia.
Apenas 1 a 5% dos leucócitos circulantes são eosinófilos.
O aumento de eosinófilos
ocorre em pessoas alérgicas, asmáticas ou em casos de infecção intestinal por
parasitas.
Eosinofilia = é o
termo usado quando há aumento do número de eosinófilos
Eosinopenia = é o termo usado quando há redução do número de eosinófilos
6) Basófilos
Os basófilos são o tipo menos comum de leucócitos no sangue.
Representam de 0 a 2% dos glóbulos brancos. Sua elevação normalmente ocorre em
processos alérgicos e estados de inflamação crônica.
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Leucócitos normais |
- PLAQUETAS
As plaquetas são fragmentos de células responsáveis pelo início do processo de coagulação. Quando um tecido de qualquer vaso sanguíneo é lesado, o organismo rapidamente encaminha as plaquetas ao local da lesão. As plaquetas se agrupam e formam um trombo, uma espécie de rolha ou tampão, que imediatamente estanca o sangramento. Graças à ação das plaquetas, o organismo tem tempo de reparar os tecido lesados sem que haja muita perda de sangue.
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Plaquetas normais |
O valor normal das plaquetas varia entre 150.000 a 450.000 por microlitro (uL). Porém, até valores próximos de 50.000, o organismo não apresenta dificuldades em iniciar a coagulação.
Quando os valores se encontram abaixo das 10.000 plaquetas/uL há risco de morte, uma vez que pode haver sangramentos espontâneos.
Trombocitopenia é como chamamos a redução da concentração de plaquetas no sangue. Trombocitose é o aumento.
A dosagem de plaquetas é importante antes de cirurgias e para avaliar quadros de sangramentos sem causa definida.
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