quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Urinálise

A urinálise compreende a análise macroscópica e físico – química da urina e o exame microscópico do sedimento urinário.O exame rotineiro de urina é um método simples, não-invasivo, capaz de fornecer uma variedade de informações úteis em relação a patologias envolvendo os rins, o trato urinário e, por dados indiretos, algumas patologias sistêmicas. 
Apesar de simples, diferentes técnicas encontram-se envolvidas na sua realização, em 3 etapas distintas:

- análise física,
- análise química,
- análise microscópica do sedimento

Pelo baixo custo e facilidade de obter amostras, a uroanálise é um dos exames mais rotineiramente realizado no laboratório de análises clínicas, principalmente por fornecer ao clínico dados informativos sobre patologias renais e do trato urogenital, bem com, sobre doenças extra-renais. A amostra matinal recente, não sofre influências de alimentação e nem de exercício, e nem contaminação bacteriana, sendo a mais adequada por estar mais concentrada, aumentado assim a possibilidade de conter elementos anormais ou normais em concentrações elevadas. 
A colheita da urina é de fundamental importância e varia de acordo com a espécie. A urina pode ser obtida das seguintes forma:

1. Micção natural
2. Cateterismo
3. Cistocentese 

Micção Natural

As amostras são eliminadas espontaneamente e coletadas assim que o animal urina, são mais simples de serem obtidas porém sofrem contaminação de órgãos genitais e ou do trato reprodutivo. 

Cateterização 

A obtenção da amostra se processa através da inserção de uma sonda via uretral devendo ser esterilizada e inserida corretamente. 

Cistocentese

É utilizada para a coleta de urina estéril em cães e gatos, realizada com o auxílio de ultrassom evitando assim a perfuração da bexiga. 

Acondicionamento 

A urina deve ser colhida em recipiente limpo, podendo ser de vidro ou plástico e obrigatoriamente estéril se a amostra for submetida a isolamento bacteriano e antibiolgrama, se a amostra e urina não for analisada imediatamente após a colheita, os frascos escuros são preferíveis pois a luz ambiental pode ocasionar a degradação de certos constituintes da urina, tais como bilirrubina e urobilinogênio, em menos de uma hora. A primeira urina da manhã é preferível, pois provavelmente contém os elementos de significado diagnóstico, enquanto a ingestão de líquidos durante o dia dilui a urina. Sempre que possível, a amostra deve ser processada imediatamente após a colheita, pois após 2 horas já ocorrem alterações dos componentes iniciais. 
Podem ser verificadas alterações químicas e físicas em um breveespaço de tempo quando a amostra for deixada à temperatura ambiente. Nesse caso, as bactérias, quando presentes, proliferam rapidamente e se forem redutoras de uréia irão alcalinizar a amostra. A urina alcalina, por sua vez, tende a dissolver os cilindros e ocasionar a cristalização dos solutos alterando o aspecto macro e microscópico da urina. Uma boa maneira de conservar a urina é mantê-la em temperatura de refrigeração (1 a 4°C) por até 12 horas pós colheita, tomando-se o cuidado de deixar a urina retomar a temperatura ambiente previamente ao exame. Temperaturas inferiores à de refrigeração podem elevar a densidade específica da amostra e podem degradar os constituintes celulares. 
Quando não for possível a realização imediata da urinálise, ou quando não houver condição de acondicioná-la adequadamente, pode-se utilizar substâncias conservantes de ação antibacteriana, tais como o tolueno, o timol e a formalina. A formalina deve ser utilizada na diluição de uma gota a 40% para cada 30mL de urina. Este modo de conservação torna inviáveis as provas químicas da urina. O frasco contendo a urina deve ser identificado, e enviado junto com a requisição devidamente preenchida.

Exame de urina:

O exame de ser realizado e interpretado segundo algumas imformações:

Exame n° : _________
Proprietário :


RG :
Data: / /
Espécie :
Raça :
Sexo :
Idade :
Horário colheita :
Diagnóstico provisório:


Sob Tratamento? Qual?

História Clínica resumida :





Colheita: ( ) Cistocentese ( ) Cateterismo ( ) Micção natural


  • Exame físico

1. Volume

Anúria: por obstrução de vias urinárias, desidratação intensa, nefrose esclerótica, I.R.A.
Poliúria: Excesso de volume urinário. Urina pálida juntamente com densidade específica baixa
Oligúria: Redução de volume urinário. Urina escura com densidade específica alta     
Volume ideal para análise: 10 ml

2. Cor 

A cor habitual da urina é amarelo, o que se deve, em sua maior parte, ao pigmento urocromo. Essa coloração pode apresentar variações em situações como a diluição por uma grande ingestão de líquidos, que torna a urina amarelo-pálida. Uma cor mais escura pode ocorrer por privação de líquidos. Portanto, a cor da urina pode servir como avaliação indireta do grau de hidratação e da capacidade de concentração urinária.
O uso de diversos medicamentos e a ingestão de corantes alimentares também podem causar alteração da cor da urina.
Há numerosas possibilidades de variação de cor, sendo a mais freqüente a cor avermelhada (rosa, vermelha, vermelho-acastanhada). A cor avermelhada pode acontecer na presença de medicamentos, hemácias, hemoglobina, metahemoglobina e mioglobina. As porfirias também podem cursar com coloração vermelha ou púrpura da urina. 
Também é freqüente a cor âmbar ou amarelo-acastanhada, pela presença de bilirrubina, levando a urina a se apresentar verde-escura em quadros mais graves.

3. Odor

- Normalidade: sui generis
             - Fétido: Decomposição de proteínas
             - Cetônico: Cetose, toxemia de prenhez em ovelhas
             - Inodoro: Diluição ou uremia
             - Amoniacal: Fermentação alcalina ou ação da urease bacteriana
             - Adocicado: Diabetes melito
             - Alguns medicamentos alteram o odor da urina

4. Aspecto

A maioria das espécies domésticas apresenta normalmente urina transparente ou límpida; a única exceção é o eqüino, cuja urina é turva devido à presença de cristais de carbonato de cálcio e muco. Apresenta-se turva quando alterada e pode representar uma grande quantidade de leucócitos, eritrócitos, células epiteliais de descamação, muco e bactérias do trato urinário. A contaminação da urina por exsudato de trato genital também pode ser a causa da turvação da urina colhida sem cateterização. A melhor forma de detectar a casa da turvação da urina do exame do sedimento. 

5. Sedimento 

Avaliado após a centrifugação de no mínimo 5ml de amostra e em aimais normais aprenta-se discreto. Quando abundante pode ser devido a alta concentração urinária de cristais, leucócitos ou outros componentes. A cor do sobrenadante é tabem importante, em especial para diferenciar hemoglobina (avermelhado) de hematúria (límpido)

6. Consistência

Normalmente líquida, e levemente viscosa em equinos. Altera-se na leucocituria ou piuria, cristalúria, etc...

7. Densidade

A densidade ajuda a avaliar a função de filtração e concentração renais, bem como o estado de hidratação do corpo. Depende diretamente da proporção de solutos urinários presentes (cloreto, creatinina, glicose, fosfatos, proteínas, sódio, sulfatos, uréia, ácido úrico) e o volume de água. 
Densidades diminuídas podem ser encontradas na administração excessiva de líquidos por via intravenosa, reabsorção de edemas transudatos, insuficiência renal crônica, quadros de hipotermia, piometra, hiperadrenocorticismo, hipoadrenocorticismo, Síndrome de Fanconi, diabetes mellitus e diabetes insipidus. 
Densidades elevadas podem ser encontradas na desidratação, diarréia, vômitos, febre, diabetes mellitus, glomerulonefrite, insuficiência cardíaca congestiva, proteinúria, uropatias obstrutivas e no uso de algumas substâncias, como contrastes radiológicos e sacarose.
Alterações na densidade urinária:
-Densidade ≤ 1.007: Hipostenúria - indica capacidade de diluição do filtrado glomerular, e sugere que não há falência renal.
-Densidades entre 1.008 a 1.012: Isostenúria - indica que os rins não alteraram a concentração do filtrado glomerular.
-Densidades entre 1.013 a 1.029 (cão) e 1.013 a 1.034 (gato) - indicam que a urina foi concentrada, mas não é o suficiente para determinar função tubular adequada.


  • Exame químico:

O exame químico da urina é realizado com o auxilio de fitas reagentes de química seca, obtias comercialmente para laboratórios humanos. É importante lembrar que uma baca desidade urinaria significa diluição dos constituintes químicos urinários.

1. Ph

Normalmente a urina é ácida em carnívoros e alcalina em herbívoros. O pH mais elevado em carnívoros costuma ser apresentado em cistite provocada por micro-organismo urease positivo sendo confirmada pelo exame de sedimentoscopia. Em ruminantes o pH mais ácido denota situações de deslocamento de abomaso, alcalose, hipocalemia e hipocloremia.

2. Proteínas(mg/dl)

A presença de proteínas na urina (proteinúria) possui significado dependente do exame de sedimentoscopia. Dentre suas diversas causas destaca-se achado secundário de hemorragia, inflamação ou degeneração tubular renal, caso não haja indicadores dessas causas no exame de sedimento deve -se pensar em lesão glomerular e extravasamento. 

3. Glicose(mg/dl)

A presença de glicose na tira reativa deve ser realizada paralelamente a concentração de glicose no soro. A principal causa de sua presença na urina se deve ao excedente do limiar tubular renal de reabsorção de glicose. A hiperglicemia pode ser pós – prandial secundária ao stress (bovinos e gatos) ou reflexo de diabetes melito. 

4. Acetona

As cetonas aparecem na urina quando o grau de cetoacidemia excede o limiar renal de absorção da filtração glomerular. Cetoacidemia e cetonúria refletem a produção excessiva de cetonas que ocorre quando o excesso de gordura de reserva excede a capacidade metabólica do fígado de oxida - las ou reacondiciona - las em lipoproteínas. 

5. Bilirrubina

É indicativo de distúrbios hepáticos, determinando apenas bilirrubina conjugada ( essa transformação de bilirrubina livre em conjugada ocorre exatamente no fígado). 

6. Sangue oculto

Hemorragia, Hemoglobinúria e Mioglobinúria são as principais causas da presença de sangue oculto na tira reagente sendo confirmado pelo achado de hemácias no sedimento urinário. Caso não haja hemorragia deve -se diferenciar hemoglobinúria de mioglobinúria a partir da realização de hemograma e histórico clínico. Hemoglobinúria resulta de hemólise ( destruição de hemácias alteradas) intra vascular (dentro dos vasos sanguíneos) ocasionando uma anemia grave ; A Mioglobinúria ocorre devido a intensa lesão muscular acompanhada de elevação dos valores de enzimas musculares (AST, CK E LDH).




7. Cristais: 

- Cristalúria
   - Alguns se formam por secreção natural de substâncias na urina, outros se formam como decorrência de doenças metabólicas
    - O tipo de cristal depende do pH, concentração e temperatura da urina e da solubilidade dos elementos
    - Tipo predominante em cães e gatos: Fosfato amoniomagnesiano
  - Tipo predominante em bovinos e equinos: Carbonato de cálcio e diidrato de oxalato de cálcio
    - Bilirrubina: Indicam alto teor de bilirrubina conjugada = hepatopatia + colestase
    - Fosfato triplo ou Estruvita: Urina alcalina ou ligeiramente ácida
    - Fosfato amorfo: Urina alcalina
    - Carbonato de cálcio: Normal em urina equina
    - Uratos amorfos: Urina ácida
    - Biureto de amônia: Mais comum em animais com hepatopatias graves
    - Cistina: Disfunção tubular renal ou urolitíase por cistina
    - Leucina e Tirosina: Hepatopatias mais avançadas
  -Sulfonamida: Animais tratados com sulfonamidas - Deve-se fazer manutenção da urina alcalina e estimular o animal a beber água.
    - Oxalato de cálcio: Urina ácida ou neutra
                    - Urina de animais envenenados com etilenoglicol
    - Grande número de cristais = predisposição à urolitíase por oxalato







Referências Bibliográficas

THRALL. M.A, et al. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 1 Ed. São Paulo: Roca, 2007.

LIMA et al. Análise dos parâmetros bioquímicos e urinários de cães com suspeita de afecção do sistema urinárioRevista Ciência Animal, 15(1):43-47, 2005.

HENDRIX, C. H.  Procedimentos Laboratoriais para Técnicos Veterinários. São Paulo: Roca, 2006.

COWELL, R.L; TYLER,R.D; MEINKOTH, J.H; DeNICOLA, D.B. Diagnóstico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos. São Paulo: MedVet, 2009. p. 350 - 364.

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